08/07/10

.::Miguel Esteves Cardoso e o Calor

"MEC: O calor, ainda assim

Que nunca mais era Verão. Que nunca mais vinha o calor. E, quando o calor veio, que era insuportável. Todos os anos é a mesma coisa. E a culpa é sempre nossa. Que mais se pode esperar de uma língua em que não há ditado que nos avise a ter cuidado com as coisas que queremos, não se vá dar o caso de as recebermos? Insatisfeitas com o belo tempo primaveril que tem estado, as pessoas torciam o nariz e só alumiavam os olhos quando explicavam que lhes fazia falta o “calorão”; aquele calor que só se pode estar dentro de água; o calor que faz tremer o que se vê.
Vem o calor – nem sequer esse calorão – e começam logo a queixar-se. Que tanto também não. Que a uma segunda-feira não dá. Que tem de haver uma preparação, para uma gajo se organizar, porra.
No PÚBLICO de ontem foram mais frescas as cabeças. Na reportagem de Alexandra Campos e Ricardo Garcia, que nem um castigo, anuncia-se que “a partir de amanhã[seja, hoje, quarta-feira], ainda assim, haverá alguma instabilidade, com ocorrência de aguaceiros e trovoadas até quinta-feira. Na sexta-feira, a temperatura deverá cair”.
Ora toma! Nada acompanha tão bem uma ventoinha acabada de comprar como trovoadas e aguaceiros. E na sexta, quem já esteja climatizado aos quarenta graus deve preparar-se, com coragem, para rapar algum frio.
Aquele “ainda assim”, de colocação perfeita, diz tudo o que se pode dizer sobre a petulância ingrata dos portugueses perante o clima que Deus nos deu.

[Miguel Esteves Cardoso, PÚBLICO 2010/07/07]

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