By Pedro Ribeiro para o DN
Tenho um amigo de infância que era o único portista na Praceta onde jogávamos à bola, em Oeiras. Final dos anos 70, início dos 80 e ele era o miúdo mais gozado da Figueirinha. Sempre que o FC Porto vinha à Luz, a questão não era se ia perder, mas por quantos.
A ideia do Porto ganhar na Luz era tão absurda como a ideia de ver o Anosthosis Famagusta ganhar a Champions League ou a ideia de ver o Mariano González ser, afinal, um craque. Lembro-me bem do sabor humilhante da primeira vez que vi o FC Porto ganhar na Luz. 0-1 com golo de Gomes, naquela época em que o nosso treinador era o inesquecível e improvável Pal Csernai, esse apreciador de bebidas espirituosas que não sabia quem era Eusébio. Pensei que era um acidente de percurso, um pedaço de bizarria futebolística, tão incrível, que um dia seria impossível contar a uma criança, pois ela ia pensar que estávamos a inventar. O Porto ganhou na Luz? Impossível.
Os anos seguintes haviam de provar que esse meu amigo ia ter a sua desforra.
Hoje em dia, é ele quem me envia venenosas sms antes, durante e depois dos jogos entre Benfica e FC Porto.
Ter amigos do FC Porto é agora um certo desconforto, uma espécie de comichão que incomoda e da qual não é possível uma pessoa livrar-se facilmente. Quando ganhámos 2-0 no Dragão foi como se a vida voltasse a ter sentido. Mas depois há os acidentes... Quando parece que vamos voltar à boa e velha tradição de os derrotar, ao menos na Luz, há uma bola que entra e o árbitro decide que não entrou. Já aconteceu.
Este ano, estou fartinho de explicar o óbvio aos meus amigos portistas: os jogadores do Benfica são melhores do que os do Porto, e só um bloqueio mental, tipo aquele que nos toldou o espírito em Olhão, é que pode impedir a inevitável conquista do campeonato, esta época. Este fim de semana, não temos Di María, nem Fábio Coentrão, nem Ramires...mas ser benfiquista passa por acreditar que podemos ganhar com um golo do Maxi Pereira ou mesmo do César Peixoto. Ou mesmo, suprema fantasia, com um ou dois autogolos do Bruno Alves (o David Luiz deles, mas com pior ar).
Ao longo dos últimos anos, os meus amigos portistas foram inchando. Não tenho amigos portistas magrinhos. Incharam com as vitórias. A fruta está cheia de açúcar, já se sabe.
E é preciso que entrem numa rigorosa dieta, de uma vez por todas. A sério, já chega.
Dizia-me esse meu amigo, esta semana, que, no novo Estádio da Luz, o Porto só perdeu uma vez. Respondi-lhe que vai agora perder de novo. E o mais extraordinário em qualquer adepto, é esta crença, imune a qualquer argumento, ou a qualquer prova empírica em sentido contrário: vamos ganhar, sempre. E ganhar ao Porto tornou-se, com o passar dos anos, mais saboroso do que ganhar ao Sporting. Porque mais raro.
Ganhar ao FC Porto é sentir que as coisas estão, de novo, no seu devido lugar, e que a vida volta a ganhar sentido. César Brito é Deus. Nuno Gomes outro. Ganhar uma final da Taça com um golo do Fyssas foi suprema estocada no Dragão. Queremos é ganhar, e é com essa crença que vou pôr o meu telemóvel no silêncio, quando entrar no Sector 3, Piso 0, Fila V, lugar 9, bancada TMN, este domingo na Luz.
Espero ser eu a enviar um sms no fim.
A ver vamos como será no final!!! :)
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